22.11.07

Redacção

Os meus pais são pessoas muito diferentes uma da outra. Por dentro e por fora. Mas amam-se e estão juntos há 30 anos. Conheceram-se numa festa que o meu pai tinha organizado. Havia outra mulher, mais atiradiça que a minha mãe, que estava na festa e queria namorar com o meu pai ou menos que isso. Mas o meu pai preferiu a minha mãe. Ela tinha e tem cabelos lisos e escuros. E olhos verdes, embora pareçam castanhos à primeira vista. O meu pai tem uns olhos azuis mais belos que o mar. As pessoas que nós amamos são sempre muito mais bonitas do que o mar. Eles são.
Os meus pais são pessoas muito honestas e boas. Ensinaram-me quase tudo o que sei, e a vida vai-se encarregando do resto.
Talvez devesse ir mais atrás. Aos meus avós e trisavós. Mas não tenho tempo e não vos quero maçar. Ao meu avô paterno, não o conheci. Morreu no Douro, há 34 anos. O meu pai estava na Guerra Colonial quando recebeu a notícia e sofreu muito. Não o deixaram vir a Portugal e ficou por lá mais um ano. A minha avó paterna tem mau feitio mas, à maneira dela, tentou ser boa para mim. Agora desdobra-se em atenções com a minha filha, apesar de não sermos muito chegadas e acho que foi a forma que a vida arranjou de nos aproximar e de comunicarmos o amor entre nós.
Os meus avós maternos foram sempre muito chegados a mim, toda a vida serão, apesar de o meu avô ter morrido em 2004, durante o sono. Foi um choque. Uma semana antes de morrer pediu-me para me fazer festas no rosto e disse “dou-te a ti o carinho que não soube dar à tua mãe”. Tenho saudades. No Natal seguinte pus a mesa a contar com ele, quando me apercebi chorei muito e abraçamo-nos e depois fomos comer. As pessoas diziam coisas à minha mãe como “tens de recuperar”. Apetecia-me mandar toda a gente à merda e dizer que ela é que sabia quando conseguia “recuperar”. Não se recupera de uma perda como aquela em poucos meses. Mas adiante. Tudo isto interessa para o que quero mostrar-vos. A minha avó materna passa muito tempo comigo e com os meus pais. Ela foi a primeira a saber que eu fumava e não me traiu nem contou aos meus pais. Não me importa se devia tê-lo feito, não o fez e, entre outras coisas, destacou-se de todas as avós do mundo por ser especial, compreensiva e cúmplice. Ela não sabe ler nem escrever mas trata de todas as suas papeladas, tem telemóvel, sabe fazer contas e diz coisas como “hoje estou off-side”. Farto-me de rir com ela e tenho saudades quando ela não está. Também me chateio com coisas parvas que diz. Ela compra as coisas que eu mais gosto de comer e ajuda-me em tanta coisa! Ela conhece-me muito bem e diz que eu sou piegas e muito inteligente mas que se não melhoro o feitio nenhum homem me quer.
A minha filha tem quase 1 ano. Ela existe desde sempre dentro de mim, sonhei vezes sem conta com ela e um dia engravidei e soube que ela vinha a caminho. Preparei-me bem e tem corrido tudo pelo melhor. O nome dela é o meu nome favorito desde sempre, tem um significado muito especial para mim e só poucas pessoas a ele têm acesso (ao significado). Ela tem seis dentes e bate palminhas e diz muitas vezes “mamã”. Dormimos juntas e eu dou-lhe mimos sem fim. Ela também me dá mimos porque sabe receber. E isso é muito mais raro do que parece. A minha filha é uma parte de mim e é a pessoa mais maravilhosa que eu tenho o privilégio de conhecer. Ela muda os canais da televisão e depois olha para mim. Às vezes estou muito cansada e ela quer brincar, e tenho sempre paciência e vontade de rir.
Eu hoje faço 28 anos. E achei que a melhor maneira de vos falar nisso era assim, falando das pessoas que me fizeram e fazem todos os dias melhor.

12 comentários:

vague disse...

Não tive ainda oportunidade de ler o texto, apenas a primeira linha, só vim aqui e agora para te dar um beijinho de parabéns :) e muitos :) anos de vida :)
Até logo**

shark disse...

Já eu li o texto todo. És uma pessoa bonita.

Joana Amoêdo disse...

Obrigada, Vague querida:-)

Joana Amoêdo disse...

É extenso, para o meu costume...obrigada:-)

Randomsailor disse...

Parabéns outra vez, debbie! O texto és tu. Desejo-te um ano com muito amor...:)

vague disse...

Debbie, que texto extraordinário. Parece que foi escrito com o coração. E...foi, não foi?

Revi-me em algumas coisas que falaste, nesse amor à família, nessa admiração pelos pais. Sabes que a minha mãe tem olhos verdes cinzentos azuis tb? :)

Desejo que estejas a passar um dia e uma noite feliz e só posso dizer mais, se me permites um conselho,
aproveita todos os pedacinhos da tua vida com a maior genuinidade que fores capaz!

assinado: vague maternal às vezes
;)

(e beijinhos)

Joana Amoêdo disse...

Sailor, só agora percebi o "outra vez", sou pouco frequentadora do gmail. Obrigada, és um querido!

Joana Amoêdo disse...

Vaguezinha, escrito com o coração nas mãos. É fácil:-)Aceito sempre bons conselhos.

Carlos Romão disse...

Que os 28 anos te sorriam, como o Sol da Primavera!

Joana Amoêdo disse...

A este comentário respondo: obrigada:-), ao mais abaixo respondo: sou tímida:-)

Carlos Romão disse...

Quem diria...?
:)

Joana Amoêdo disse...

Não percebi o "quem diria". Por acaso até sou. Não vou abordar uma pessoa assim sem mais nem menos.