16.12.07

Qual é a via mais rápida para sair daqui?

Ontem fui a um jantar de curso. Daqueles jantares naqueles restaurantes com música ao vivo, onde se come carne mal passada e se bebe vinho rasca e as mulheres balzaquianas estão como que enlouquecidas. Um cantor chamado joão paulo com umas calças de ganga rotas e desbotadas, colarzinho de prata e um reportório que oscilava entre carlos paião (menos mal) e aquelas brasileiradas bregas que quando começam nunca mais acabam, um empregado que nos atende com a frase "como é que é? as outras vêm ou posso tirar a mesa? tsc tsc" e o ambiente estava criado. Eu por acaso até me diverti com as minhas colegas de curso, todas mais novas do que eu e, pelos vistos, com muito mais genica, apesar de eu ainda não ter passado a barreira dos 30. Foi o que elas disseram, que eu não estava animada, porque não fui dançar nem agarrei no micro do joão paulo. Mas levantar-me para ir à casa de banho nos restaurantes é o meu limite de movimentos durante um jantar:-).
A seguir à tourada da carne quase crua e do vinho boca de sapo, sugeri que fôssemos ao triplex (diz a marta que é mesmo a minha cara e acho que fiquei contente) mas depois o jorge, que é o namorado da daniela, daqueles mesmo a sério, com aliança dourada no anelar direito, já estava a chegar ao via. Ora o via, mais precisamente o via rápida é uma discoteca portuense que já existe há alguns anos mas que eu, mais adepta do indústria, boys r us e swing, nunca tinha frequentado. No entender da sandra aquilo era "um show", tipo concerto do ricky martin só que as mulheres não pagavam. "E quando a pista abre? Que show!". Ok, bamos lá, cambada. Eu, deixem-me que vos diga, fui um bocadinho precoce nas saídas à noite. Comecei a sair sem que os meus pais soubessem e aos 13 anos. Saía com a minha prima que já era mais velha e frequentava os locais mais extravagantes da noite do Porto. Ok, os locais mais gays, pronto. Por isso, esta noite, entrar no via foi uma experiência sociológica de observação. Na porta, um tipo de sobretudo resolveu perguntar a idade à daniela. Ela: "23". E ele, com um ar soturno: "Parabéns". Uau, que noção de relações públicas. Vou escrever esta no meu diário de certeza. Pousamos os casacos e carteiras, 1 euro para aqui, 1 euro para ali, e entramos. Nas discotecas hetero pesadonas as coisas não mudam. Miúdos de 13 anos e miúdos de 50. Todos com ar de lambões e avaliando as peças. Uma das minhas colegas estava com o namorado e de repente ouvi-a debitar o seguinte: "ai quésta já se está é a chegar demais para ti". A ana rita, uma jóia de moça, calma que nunca ninguém a ouve, tinha-se transformado numa ciumenta agressiva ao entrar no show que era o via rápida! Uma rapariga bonita, que esperava com certeza por alguém, como depois se veio a confirmar, tinha caído no erro de se encostar ligeiramente ao namorado-estátua-de-mármore-guardador-de-moças que era o moçoilo da ana rita e ela não descansou enquanto a rapariga não se sentiu suficientemente empurrada ao ponto de mudar de poiso com ar desamparado!
Mas foram muitas as coisas boas, apesar de não me identificar com o ambiente circundante. George Michael e Village People já são o bastante para aqui a Debbie abanar a caganita, como diz a minha mãe.
Ao ver as horas a passarem, as minhas boleias em êxtase numa plataforma de braços no ar, pensei, enquanto mordia a palhinha da coca-cola: "esta alegria tenho-a numa base diária". Despedi-me, peguei nas minhas peles (falsas), entrei num táxi e só parei na minha cama.

5 comentários:

Randomsailor disse...

E aposto que só repetes esta daqui a 10 anos... ;)

shark disse...

Por acaso não me tenho dado nada bem nesse tipo de reencontro com algum dos meus passados.
Tresanda sempre a amigos de alex...

shark disse...

Alguns dos meus passados, queria eu dizer.

Joana Amoêdo disse...

Podes crer, Sailor:-)! Houve ali uma parte da noite em que eu senti claramente que me estava a forçar por estar com elas e não gosto muito de me sentir desmancha-prazeres, mas as 3 da manhã foram o meu limite. A liberdade existe para isso mesmo. E eu uso-a vezes sem conta para abandonar cenários que não se encaixam na minha maneira de estar.

Joana Amoêdo disse...

Mas neste caso, Shark, não foi um reeencontro com o passado, foi com o presente. Foi um jantar do curso que actualmente frequento e que está a acabar. Jantares de faculdade, por exemplo, não vou. Primeiro porque raramente se organizam (arrisco dizer que não se realizarão mais) e depois porque acho deprimente as pessoas se juntarem para falar de trabalho ou da falta dele que é o que acontece nesses jantares. Eu gosto de ir jantar fora com pessoas com quem tenho intimidade e me sinto confortável:-)