3.2.08

Hoje fazes 34 anos. Vais acordar e não vais tomar o pequeno-almoço. Como sempre. Vais ligar a televisão, pegar no suplemento do Público de sexta-feira que deixaste ao lado da cama e acabar de ler aquela entrevista. Vais olhar para o telemóvel para veres as horas mas deixaste-o ficar sem bateria. Vais ligá-lo à corrente enquanto te diriges para a casa-de-banho e coças a cabeça. Olhas-te ao espelho e penteias cuidadosamente as mechas de cabelo preto entre dois dedos esguios. Tosses um pouco, assoas-te, sentas-te na sanita para fazeres chichi. Levantas-te e diriges-te ao telemóvel, tentas ligá-lo, são 10h40. Entras no trabalho às 19h. Pensas na tua filha. E pensas em mim. Pensas que de qualquer forma não ligas nada ao aniversário. E isso é mentira. Olhas para a fotografia dela por cima da lareira, o único objecto que te adorna a casa. O telemóvel dá sinal duas vezes, duas mensagens que esperavam que tu o ligasses atropelam-se entre si. Não vais responder. Mas ele toca. É a tua mãe, sempre com os mesmos disparates, a mesma insistência num almoço onde o único mimo possível se traduz num envelope com dinheiro dentro. Ela escolhe o restaurante, as horas, sugere o que deverias comer e tu vais comer exactamente o oposto, só para a contrariares e te sentires um pouco menos sufocado. Inventas que o trabalho hoje começa às 15h, porque te apetece estar sozinho. Um vicío que confundes com sensatez. Passeias o teu charme por algum centro comercial, sem te dares conta dele.
O telemóvel, desligado.

Sem comentários: