16.4.08

François Truffaut - Entrevista Imaginária parte 3


A Les Films du Carrouse (empresa cinematográfica criada por Truffaut em 1957) foi buscar o seu nome ao filme de Jean Renoir, Le Carrosse D’Or, de 1953 (A Comédia e a Vida). O que representa para si Jean Renoir?

F. T. – “Não estou longe de pensar que a obra de Jean Renoir é a de um cineasta infalível. Foi graças à familiaridade que Renoir conseguiu rodar os filmes mais vivos da história do cinema, aqueles que ainda respiram quando os projectamos 40 anos depois da sua rodagem. (…) Não é o resultado de uma sondagem mas um sentimento pessoal: Jean Renoir é o maior cineasta do mundo. (…) Não será Jean Renoir o cineasta dos sentimentos pessoais?”

É conhecida a sua admiração por Alfred Hitchcock. O que nos pode dizer sobre ele e seu legado cinematográfico?

F. T. – “A carreira de Hitchcock prova que um realizador de cinema pode conhecer o sucesso e manter-se fiel a si próprio, escolher os seus próprios sujeitos, tratá-los à sua maneira, realizar o seu sonho e fazer-se compreender por todos. (…) uma filmografia deslumbrante, a mais rica e mais completa entre as dos encenadores que começaram nos anos 20, ou seja, com o cinema mudo. (…) Hitchcock não dissemina uma mensagem humanista, não nos faz amar personagens simpáticas mergulhadas em situações que as valorizam. Aquilo que procura fazer-nos sentir é muito mais a insegurança, o medo, a consolação, algumas vezes a compaixão.”

Essa visão “hitchcockiana” remete-nos para as personagens dos seus filmes, um pouco anti-heróis, frágeis, plenos de defeitos tão humanos, tão…vulgares.

F. T. – “Eu faço filmes vulgares para pessoas vulgares.” (…) “Com a tendência que tenho para os anti-heróis e as histórias de amor agridoce, sinto que seria capaz de fazer o primeiro filme de James Bond que perderia dinheiro.”


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