1.6.08

E vida



Entre os meus egoísmos (talvez) incuráveis, um persiste. Quando pernoito fora de casa, gosto muito de ser a primeira a acordar. De ter as pessoas de quem gosto aconchegadas na cama, enquanto me esgueiro para o exterior, faça chuva ou faça sol. Prazeres destes não se compadecem com desníveis metereológicos. Gosto de ter a sala do pequeno-almoço só para mim e comer muito, pausadamente, e experimentar misturas que em casa tenho preguiça de levar à boca. A monotonia, que tanto me assusta, serve-me hoje para potenciar os efeitos da quebra das regras, excepcionalmente, em todos os sentidos da palavra adverbiada. Sou quem sou e devo-o também aos campos verdes de domingos enevoados, às manhãs de calma e cansaço. Percebi, entre os flocos de chocolate e o sumo de laranja que habitualmente me enjoam, que não vale a pena lutar contra. Eu vou com a maré.
Tenho muitas palavras guardadas no peito. Tenho uma noite de estrelas e urtigas nas coxas. Tenho a tua bondade e não tenho medo da tua bondade. Tenho a minha família. Tenho um amanhecer de sol e saber-te na tua casa, nem longe, nem perto, porque para mim não existem mais distâncias. Tenho o teu respeito, a tua loucura. Tenho uns pés e os meus pés uns nos outros dentro de água. Tenho um domingo e um aniversário pequenino, uma vida grandiosa, fenomenal, até simples. Tenho tios, avós, primas, pai, mãe, filha, deus. Tenho irmãos.
Bicicletas
granito
verdura
água
amor