30.6.08

Décima Quinta Ficção

Num final de tarde de Verão, Luísa deixa-se conduzir pela auto-estrada de volta à cidade. Consegue ver o mar no horizonte e este parece-lhe perto demais. O sol é brilhante e ainda quente. As pernas nuas e as mãos abraçam uma delas, aconchegando um pé empoeirado e sujo de areia. Uma canção e um cheiro recordam-lhe lapidarmente um momento que achava enterrado nas profundezas do passado:
num carro, um homem, o rádio a tocar, a conduzi-la, de volta, vou levar-te de volta à tua casa, e ele tem pressa, ela acalma-lhe o coração e isso não pode ser, tenho mais o que fazer do que vir a ser um ex teu,
não vou ser um ex teu,
um silêncio, uma lágrima de mulher, uma sensação de abandono, com o meu corpo te perdi.
Como seria Luísa se aquela viagem de regresso nunca tivesse existido, como seria se os poucos quilómetros percorridos fossem apenas e só alcatrão e o rádio silêncio?
Coisas há que são pequenas e fundas, coisas que não chegam a ser importantes, coisas que são possibilidades inconcretizadas e que nos mudam a vida para sempre.

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