9.9.08

O que eu tenho e o que (não) devia ter

Estava calor no autocarro. Depois de uma tarde de colo e correrias pelas ruas do Porto, atiro-me para uma das cadeiras do carro grande contigo ao colo e lá vamos nós, de volta a casa. Às vezes as pessoas dizem-me "devias ter um carro" e eu não sei se devia ter um carro. Sinceramente acho que não. Se assim fosse, teria talvez conforto e o fresquinho do ar condicionado, mas não veria um sinal, o primeiro sinal que se formou na pele da minha filha, perto do pescoço, na dobra do ombro, uma pequena mancha tão bonita, numa pele assim macia e com uma penugem muito suave e cheirosa. Se eu tivesse carro, enquanto conduzia não podia ir com ela agarrada a mim, prestes a adormecer e a soltar um "mamã..." ensonado. Não podia soprar-lhe na testa enquanto lhe conto as pestanas, que são as maiores que já vi na minha vida, assim negras e recurvadas...
O que parece faltar-me, sendo inexistente no meu dia-a-dia até agora, é-me absolutamente desnecessário.
O que conquisto nestes pequenos momentos só eu sei e é muito bom.

3 comentários:

vague disse...

Tu sabes que ao te focares nas coisas maravilhosas q tens e são únicas e insusbstituíveis, estás a celebrar a vida e a gratidão, não sabes?
beijos, linda D.

O Puto disse...

O carro é uma invenção do demónio e um incitador de ódios e invejas. Fazes bem.

fina estampa disse...

para muita gente coisas que são inúteis assumem a importância de necessidades fisiológicas.