10.10.08

Clichés em itálico misturados com ironia e alguma realidade

Há aquelas pessoas que acham o máximo ter um amigo gay e então inventam, dizem que têm vários amigos gays quando afinal só conhecem um de vista. Não são nada preconceituosas, aliás, os gays fazem as melhores festas, são super divertidos. Só não gostam, estas pessoas, daqueles muito abichanados, esses metem nojo. Porque é que se hão-de querer evidenciar?!
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Onde é que eu ia? Ah, pois, é muito giro ter um amigo gay para nos sentirmos parte da sociedade moderna, não somos nenhuns parolos. Agora adoptarem crianças? Isso já é demais. Sim, porque nós é que devemos decidir pela vida dos outros, mas as crianças que nasceram e vivem em famílias heterossexuais totalmente disfuncionais, essas não nos movem nem em discussões de café.
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Mais: os gays dão as melhores festas. Que gays? Aqueles que me pisam e dão cotoveladas quando eu danço no Lusitano? Que me olham de lado e desprezam como qualquer outra gaja vulgar? Super divertidos, principalmente para quem não os conhece.
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Depois também há os gays que não sentem necessidade de se assumirem. Eu cá não me lembro de um dia ter chegado, nervosa, a casa, e ter dito aos meus pais GOSTO DE GAJOS. Eles aperceberam-se e depois fomos falando sobre isso, às vezes aos berros. A minha família também é disfuncional às vezes mas os meus pais são hetero. Acho eu. (Credo, menina.)
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Ah, os gays que não sentem necessidade de se asumirem. Se calhar não são gays, são apenas pessoas como nós que não precisam, como nós, de vestir a camisola do clube GOSTO DE GAJOS/AS. Pessoas normais, que me importa se ao lado está alguém do mesmo sexo com quem dormem e partilham tudo? Que me importa?
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As lésbicas é que metem impressão, é que vê-se logo. Vê-se? Ai se eu abrisse a boca e contasse tudo o que sei. Saltos altos e tudo.
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Quando era mais miúda ia muito a uma célebre discoteca aqui do Porto, o Swing. Um dia tive uma quebra de tensão e senti-me muito mal, dirigi-me à entrada da discoteca, subindo as escadas e já quase a desmaiar saí sem mostrar o cartão ao Ezequiel, que era o segurança que estava à entrada. Pedi-lhe que não me tocasse porque só queria era sair. E ele disse:
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- a cor não se pega.
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Nem queria acreditar, ele, negro da cor do café, achava que eu não queria que ele me tocasse por eu ser racista e ter nojo, mas eu só queria era sair e apanhar ar, estava quase a cair para o lado. Aquela frase ficou até hoje e já se passaram bem mais de 10 anos.
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- a cor não se pega.
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E depois há as pessoas. De todos os feitios. As que não gostamos, as que amamos, as que nunca chegamos a conhecer, aquelas que nos marcam e não vemos mais, aquelas a quem devíamos uma oportunidade. Já é tão complicado relacionarmo-nos, que fará com tantas barreiras... há divisões para tudo, categorias para tudo e é por isso que eu não consigo pertencer a nada. Não quero ser nada a não ser uma senhora e para isso também criei as minhas barreiras. Quem quiser que julgue, mas julga sem saber.
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Bom fim-de-semana.
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