14.1.09

Apolínea que só eu

Baco de António Teixeira Lopes, bronze, 1916

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Esta fotografia marca um ponto de viragem na minha vida. Ou então quero pensar assim e não ousarei deter esta fantasia que tanto de bom me pode trazer. Há anos frequentei este jardim portuense e só ultimamente reparei na estátua de Baco que se encontra (deteriorada é certo) numa das extremidades do mesmo. Durante meses jurei a mim mesma que no dia seguinte iria parar ali e tirar esta fotografia. Os meses passaram e, como é óbvio, como é habitual na nossa vida agitada (tão moderna que ela é), fui deixando passar, deixando passar. Hoje quebrei o ciclo. Não deixei passar. Saí do autocarro, contornei o jardim, ignorei as pessoas que me olhavam com ar de espanto e empunhei a minha máquina fotográfica. Tirei três fotografias da escultura, enquanto os toxicodependentes da zona me olhavam ao longe e se riam de mim. Mal eles sabem que adoram um deus, deus esse representado ali, registada a sua imagem reproduzida na pedra num instante que me encheu o dia de uma alegria contida.
Passeei um pouco, senti uma luz. Senti uma enorme compaixão por mim e achei, sinceramente e pela primeira vez na vida, desprovida de vaidades e ego, que sempre fui uma boa miúda. Começo a cuidar de mim, verdadeiramente, graças a tudo o que me rodeia, graças a tudo o que me constrói.
Às vezes preferimos acreditar naquelas pessoas que nos tentam convencer que somos feitos apenas e só de erros e defeitos, mas creio que chega uma altura das nossas vidas em que cada um de nós começa a querer e a ser capaz de trazer para si aquilo que realmente lhe faz bem.
Sinto-me em paz, nem eufórica, nem entusiasmada com ilusões ou auto-motivação. Simplesmente bem, no momento. Em paz, aqui, e quem sabe, em todo o lado.
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1 comentário:

Etelvina disse...

Gosto da ideia de juntares baco e paz no mesmo texto :D Bons momentos :D bejos