20.2.09

Só o tempo

Viviana vive momentos de euforia momentânea que confunde com felicidade. Colocou silicone nos seios convencida e convencendo todos os seus amigos de que o fazia apenas para se sentir bem consigo própria, como aquelas mulheres que dizem que compram a lingerie para si mesmas. Viviana não sabe mas saberá que, quando a euforia passar, se sentirá pior do que antes, porque entretanto nada na sua vida realmente mudou, continuará a sentir-se só e não aparecerá o homem da sua vida como o subconsciente aguardava.
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Luís acaba de conhecer uma mulher muito inteligente com quem jantou e fez sexo duas vezes. Ela é diferente de todas as mulheres que ele conheceu até hoje, ou pelo menos ele gosta de a ver assim, mais forte, mais culta, mais segura de si e melhor na cama do que todas as outras, até porque foram muitas as que conheceu e está mais do que habilitado a fazer essa avaliação. Jura que a vai fazer feliz e que ela tem muita coisa a ensinar-lhe, que foram feitos um para o outro e que já sabe o quanto essa possível relação lhe vai modificar a vida. Imagina-se até, mas não o revelará a ninguém ainda, a ter filhos com ela. Mas quando isso acontecer e quando essa mulher forte e inteligente lhe revelar as suas fraquezas, Luís vai sentir-se defraudado, vai achar-se desiludido, e quando ela tiver o primeiro filho e as primeiras crises histéricas de pós-parto acontecerem, Luís vai queixar-se à sua mãezinha, a mulher mais forte e inteligente que alguma vez conheceu como não existe outra, de que não está a aguentar toda a pressão de ser pai pela primeira vez. Ponderará, até, deixá-la, porque assim estarão melhor. Jamais lhe passará pela cabeça que a mulher forte e inteligente que acabou sendo de facto a mulher dos seus filhos, gostaria de poder sair de casa para ultrapassar as crises histéricas e correr para os braços dos pais queixando-se do recente marido/pai cobarde. Jamais concluirá que se calhar deveria ter sido ele a fazer o jantar, a limpar o chão e a aturar estóicamente os gritos e as diferenças sem achar logo que tudo foi um erro. Jamais perceberá a tempo que o amor é uma construção e não um momento.
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Paco acaba de sair do armário. Para quem não sabe esta expressão indica que Paco assumiu perante a sociedade e a família que gosta de homens. De um homem em particular, porque Paco nunca foi homem de muitas aventuras. Apaixonado, muda-se para casa de Luca, mais novo e mais bonito do que ele, Paco tem isso bem presente. Paco encheu o peito de coragem para se assumir e por isso crê, piamente, que isso basta para que a felicidade venha por si só. Afinal, está apaixonado e acaba de mudar-se para a casa do homem que ama e que o ama a ele. Luca não sabe que assim mesmo comete um erro, o de depositar todas as esperanças numa pessoa com quem se sente inseguro, que não lhe diz que o ama porque é essa a sua maneira de ser e Paco tem de aceitar sem grandes reclamações. O tempo dirá que Paco e Luca são dois dependentes emocionais que se farão miseravelmente infelizes um ao outro, porque se comprometeram a viver uma vida que são incapazes de cumprir.
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Antónia mudou-se para Paris para fugir dos problemas, mas a versão da sua história é que arranjou um emprego melhor por lá e que a crise em Portugal já não se aguenta. Os pais alugaram-lhe um apartamento e deram-lhe um cartão de crédito mas ela diz a toda a gente que é uma mulher independente e que já faz compras sozinha. Acabará por procurar um namorado parecido com o pai mas vai enganar-se à primeira vez e à segunda, porque a ilusão conduz a uma cegueira do coração e vai sentir-se atraída por homens emocionalmente indisponíveis até perceber tudo isto e então começar uma mudança incrivelmente profunda na sua vida.
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Ana engravidou e separou-se em seguida. Passaram dois anos e ela estava convencida que tinha ultrapassado tudo, até porque, caramba, dois anos são muito tempo! Ana esquece-se que durante estes dois anos não fez mais nada senão querer recuperar a toda a força. Por isso, ao fim de dois anos, Ana teve que chorar, deprimir-se, e admitir, por fim, que estava na estaca zero.
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1 comentário:

O Puto disse...

Gostei muito das histórias, principalmente das raparigas.