17.7.07

Ilhas desertas.

Quando tinha uns 14, 15 anos, comprava a revista Teenager. Todos os meses trazia um inquérito feito na rua a 3 ou 4 adolescentes. Num desses inquéritos, a uma pergunta sobre relacionamentos, um adolescente respondeu: "Eu queria era ir viver para uma ilha deserta e que ninguém me chateasse.".
Mais de 10 anos depois, fico a olhar para as pessoas. Olho muito para as pessoas. Umas entediadas, outras carrancudas, mas, a maioria, está feliz. A sério. Pergunto-me quantas delas acreditarão em deus. Quantas delas amam a pessoa sentada a seu lado. Quantas delas, tendo alguém sentado a seu lado, desejam ardentemente ir embora dali, com aquela pessoa, sem aquela pessoa. Quantas delas terão filhos. Quantas terão o telemóvel vazio de mensagens. Quantas esperam. E outras tantas, talvez, nem olhem para os telefones, mesmo que toquem. Há pessoas que têm um ar de quem só queria era estar numa ilha deserta. Outras (as mesmas?) estão sós e precisam de um abraço. As crianças brincam, as crianças, mesmo que sofram, são cheias de esperança. Concentro-me no que escrevo, portanto é no mundo que me concentro. Não é preciso irmos viver para uma ilha deserta. Se nos fecharmos um pouco, é o equivalente. Sozinhos mas rodeados de mundo.

3 comentários:

CarlaRamalho disse...

Eu não sei se concordo ... acho que a maioria das pessoas não é feliz. Terá momentos de felicidade, mas não é feliz. A natureza humana é complexa e não nos permite aproveitar, mesmo quando a nossa vida é privilegiada, quando comparada com outras. O isolamento é cada vez maior, a solidão pesa cada vez mais, há muita coisa que não está bem na nossa sociedade e na vida que levamos. Acho que levamos uma vida anti-natura, cada vez mais afastada das coisas que nos fazem falta ...

Etelvina disse...

Uma vez ouvi uma frase que se tornou um dos meus lemas de vida: "Dá primeiro aquilo que queres vir a receber depois". E acho que isso requer uma coragem impressionante, porque.... na sociedade (in)feliz em que vivemos hoje, a segunda parte da frase é praticamente impossivel de acontecer. Talx por isso nos fechemos tanto. É tão raro encontrar quem nos dê primeiro ou apenas que nos responda na mesma moeda ;)
Se somos felizes? Eu acho que somos só conformados.

Joana Amoêdo disse...

Vou responder com uma citação:-):
"I remember one day, many years ago, getting up at dawn, and having this sense of promisse...and I remember thinking to myself: "Ok, this must be the beggining of happiness! And of course now there will always be more!". But now, looking back, I can see that I was wrong. That it wasn't the beggining of happiness. It WAS happinness. That instant, that very moment." (do filme "The Hours").
Eu acredito que somos felizes e não sabemos que somos felizes. Achamos que a felicidade é algo de constante e linear, adquirido por motivos exteriores a nós, e que, não vendo isso no nosso dia-a-dia, deixamos de acreditar. Acho que a felicidade é aquele cliché: "está dentro de nós". Para mim, mudar a sociedade é possível, apesar de ser um processo lento. Começa por nós. Eu queria dizer-vos muita coisa:-).