27.2.08

François Truffaut - entrevista imaginária parte 2

Teve uma experiência no âmbito do cinema americano, como actor, no filme de Steven Spielberg, Encontros Imediatos de Terceiro Grau. O que o levou a aceitar o convite?

F. T. – “Muitas vezes durante a rodagem de Encontros Imediatos de Terceiro Grau, pensei que tinha feito uma loucura ao aceitar representar no filme. (…) Mesmo os actores profissionais atravessam momentos destes, invadidos por dúvidas (…). Noutra altura, eu teria recusado tal proposta porque, quando não estou a rodar um filme estou a preparar-me para um novo mas, desta vez, havia uma espécie de buraco no meu uso do tempo. Estava prestes a fazer a montagem para Na Idade da Inocência e sabia que queria fazer um filme intitulado O Homem Que Gostava de Mulheres, mas cujo cenário não estava preparado. Então disse que sim, porque gosto do trabalho de Spielberg e porque tive a impressão de que poderia representar Claude Lacombe sem me forçar, sendo eu mesmo como o tinha sido em O Menino Selvagem (1969) e A Noite Americana(1973). A perspectiva agradava-me, assistir a uma rodagem de filme sentado numa cadeira e sem medo de incomodar como o poderia fazer um visitante ocasional sem função precisa.”


E que recordações guarda das filmagens?

F. T. – “Em Alabama, em pleno verão, éramos 250 pessoas vindas de Los Angeles, trabalhando 12 horas por dia num imenso hangar sem ar condicionado. (…) Assim que as condições de rodagem se tornaram ingratas, aconteceu que cada um se desinteressou progressivamente do filme enquanto projecto artístico, virando-se sobre si próprios, não pensando em mais nada que não fosse das suas datas de fim de contrato, dos seus bilhetes de avião, etc.…Sendo assim o encenador encontra-se só com o seu sonho por realizar e é-lhe necessária uma grande coragem moral e física. Senti sempre essa coragem e essa determinação em Steven. “Eu habituei-me”, disse eu a Spielberg, “à ideia de que não haveria jamais um filme chamado Encontros Imediatos de Terceiro Grau mas que tu serias um tipo que fazia crer que rodava um filme e que reunia em redor da sua câmera um grupo de gente para dar credibilidade a essa imensa brincadeira. Estou contente de fazer parte dessa brincadeira e estou pronto a juntar-me a ti de vez em quando não importa em que parte do mundo para “fingir” que faço um filme contigo.”

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