Esta coisa dos jogos nas relações amorosas sempre foi para mim uma incógnita. Acho que nunca fui uma boa jogadora, o único jogo do qual gosto é o Trivial Pursuit, por ser de resposta directa, lógica, simples, apesar de não ser propriamente fácil.
Veja-se o exemplo da minha avó materna, relatando o dia em que conheceu o meu avô. Acrescenta sempre que ele durante semanas ficava a vê-la ao longe, enquanto ela lavava roupa no tanque com as irmãs. E que ele lhe mandava recados que ela ignorava. "Ele que espere". E ele esperou, porque nessa altura os jogos eram talvez mais simples. A mulher fazia-se de difícil e assim testava o interesse de um homem do qual depois mandava pedir informações, que eram sempre ou quase sempre confiáveis e revelavam o carácter do futuro hipotético esposo. Assim foi. Só que o meu avô foi vítima de um mal entendido. Como era já pai de uma filha pequena, o informador resumiu a história catalogando-o de casado. Então um dia, ia ele atrás da minha avó pela rua fora, ela virou-se e, pela primeira vez, dirigiu-lhe a palavra, dizendo:
- Deixe-me! O senhor é casado.
- Eu, menina? Quem lhe disse isso?
- Eu cá sei.
A mentira desfez-se e eles casaram e viveram para sempre juntos. Mas estou a desviar-me do assunto.
Os jogos. Porquê? Se alguém nos interessa somos instruídos pela nossa moral a esperar, a não dar a entender, a olhar para outro lado e a fingir que a pessoa nem está ali, mesmo que nos revolva as vísceras.
Temos de esperar que nos ligue, criar uma distância de segurança, para depois agarrar a presa.
É isso? Eu consigo perceber. Acho que já fiz isso e que já mo fizeram também. Mas acho que não gosto lá muito, sinceramente. É certo que os hábitos, como dizia alguém, são difíceis de perder mas tentar / conseguir estar com alguém na base do agora e aqui é um objectivo válido, não é? Pois é.
Estou apenas a avançar com hipóteses, gostava que alguém, que tenha conhecimento de causa, me tentasse explicar estas coisas ultra-complicadas das relações ou que me dissessem se sequer se identificam com aquilo que aqui escrevi à pressa. Porque eu não entendo tanto empenho em não dar a entender que se gosta de alguém. Parece-me tempo perdido.
Acho que, como em tudo, o meio-termo é o el dorado da coisa. Como seria bom dizer a alguém que nos agrada, sem falsos pudores "Queres passear comigo? Gostava de te conhecer melhor, gostava que fossemos amigos.". Porque tudo começa assim, não é, e pode apenas ficar por aí, o que, a meu ver, é já uma conquista do caraças. Então porque é tão difícil perguntar algo tão simples?
6 comentários:
acho que tudo se resume a uma palavra: medo.
medo de ouvir "não", medo de ser gozado, medo de nao resultar, medo de ser falado, medo do que os outros pensam, medo do que´nós pensamos, medo de não valer a pena, medo de fazer figura de otario/a.... enfim, a meu ver é exclusivamnte MEDO....
enquanto o lado da balança destinado à emoção forte(boa ou má), não pesar mais do que o medo, os jogos vão continuar. mas isso é so o meu ponto de vista ;)
Estou contigo debbie, os jogos são tempo perdido, o dito "mindfuck" é uma coisa feia e é meio caminho para quem quer que seja deixar de me interessar.
Mas o medo como disse a etelvina é um factor importante para complicar as coisas. E por cima disto tudo o mundo está cheio de maus entendidos cheios de boa vontade, e isso também não ajuda. (o mundo também está cheio de gente pervertida, danificada, com issues e minhocas na cabeça e tudo e tudo)
Ainda assim, os jogos são excusados, a vida já é tão complicada para quê por o ponteiro do complicómetro ainda mais para cima...?
não que tenha muita experiência sobre o assunto mas já sabes a minha opinião (:
medo, insegurança, pudor, orgulho,
acho que o amor é um jogo...
será que gostamos tb de ser caçadores e presas, alternadamente?
eu sou da tua opinião..
mas vou falar de uma coisa que não falaste ainda..
o meio de uma relação..quando ela não está muito bem, há um medir de forças, há aquela coisa de mostrar "tu não me afectas assim tanto" e de ficar um dia inteiro sem ligar àquela pessoa porque sim, porque é um jogo e perde quem der o braço a torcer..
quanto a começar algo com um jogo, acho que é uma perda de tempo, não passa de um hábito de sociedade..enfim, se achamos aquela pessoa especial por alguma razao devemos mostrar algum interesse, a menos que essa pessoa não demonstre nada por nós, nessa situação considero prudente haver algum cuidado(e talvez seja disso que falas), o receio de estarmos a dar um passo maior que a perna e maior do que o passo que a outra pessoa quer dar..
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