16.3.09

O caralho do capitalismo


Hoje a noite foi escura. Dormi muito mas acordei cansada e não quero saber de amenizar esta sensação. Ontem entrei ao trabalho às 9h30. Cumpri, como todos os domingos e dias em que trabalho, em que me compete cumprir um papel que me permite ter dinheiro ao fim do mês para viver. Cumpri. Mas mais do que isso, trabalho com gosto e dignidade em tudo o que fiz até hoje, até porque já faço trabalhos (de merda, confesso, alguns) desde os 18 anos. Mas este era especial. Às 15h30 estava no parque de estacionamento. Sem trabalho. Como se o dia cheio de sol não me adiantasse de nada. Como se só a minha família me pudesse vir buscar para que pudesse confessar uma verdade sem culpa minha. Eu não tive culpa de ser um número, durante sete meses. Entrei numa loja vazia, sem luz, sem água, só com pó branco das obras, irrespirável, eu e mais 15 pessoas, montamos a loja, éramos todos iguais, todos com o mesmo cansaço, o mesmo entusiasmo, criamos laços, colocamos perfumes nas prateleiras, preços, numeramos batons, confirmamos encomendas, maquilhamos pessoas de graça para vendermos nem que fossem 3 euros nos dias da inauguração, emborcamos espumante no Natal para antendermos os loucos dos clientes com algum espírito de diversão, fomos pessoas, somos pessoas, mas ali, não passamos de números. Em sete meses tornei-me mais fria, mais próxima, mais amiga, mais mulher, mais mãe, mais maquilhadora, mas gente, mais desconfiada, mais eu, ao mesmo tempo.


- E agora?


Três cartas de recomendação depois tenho uma nova hipótese ainda esta semana, noutro sítio, até melhor. Mas ficou o amargo de boca.

Do caralho do capitalismo.




5 comentários:

Etelvina disse...

é fodido! compreendo-te mto bem. não há mais nada a dizer.

vague disse...

:)

'e se calhar até melhor'

...

uma experiência por q tinhas de passar. É tirar o melhor e dar um salto. Mais tarde ou mais cedo as pessoas acabam por nos (des)iludir ...
Não sei o q quero dizer isto, estou com sono, q horas são?


E não há coincidências.

Etelvina disse...

pois soube hoje que o meu pai precisa de gente para trabalhar no leilão :P
ligo-te logo à noite
BEJOS

Joana Amoêdo disse...

A sério?! Tens noção que eu adoro fazer os leilões convosco? Liga, liga :) Lá vamos nós para mais um fds de pó e antiguidades! :D

Etelvina disse...

you got mail ;)