10.4.08

- Ele não me telefonou nem respondeu à mensagem.

- Não? Há quanto tempo?

- Dois dias.

- Que estúpido.

- Coitado, se calhar tem de trabalhar. Ou está a pensar e não sabe o que dizer.

- Luísa...

- Diz...

- Dois dias. Não são duas horas. Não combinaram nenhum silêncio, pois não?

- Não, mas também não combinamos falar.

- Ora aí está uma coisa que eu não entendo, juro, por mais que me esforce. Duas pessoas trocam números de telefone. Há um interesse. Há um diálogo. E depois, de repente, uma das pessoas decide que não quer dizer mais nada. Mas em vez de dizer "desculpa lá mas não quero compromissos", que é uma coisa que dói mas é concreta e depois passa, acaba por se deixar enredar num silêncio muito mais comprometedor.

- Fogo, tu nunca ficaste assim sem dizer nada?

- Se queres que te diga, não, porque acho isso falta de educação. Só deixo de ser assídua na comunicação quando já o fizeram comigo e sinto que, se o fizeram, paciência. A única vez que deixei mesmo de responder a telefonemas de uma pessoa foi a um maluco que confundiu mesmo as coisas e um dia tinha 30 telefonemas registados no meu telemóvel. Mas antes disso acedi sempre a falar-lhe e expliquei que não via nele mais do que um potencial amigo.

- Pois...mas nem toda a gente é assim...depois as pessoas têm a sua vida, os seus afazeres.

- Mas afazeres que te impedem de fazer um telefonema que dure uns cinco minutos? Ou uma mensagem? Afazeres como os de toda a gente, como os teus e os meus? Também os temos e estamos aqui, num final de tarde, a lanchar as duas. Daqui a pouco temos de voltar a casa, mas estivemos algum tempinho juntas, a partilhar esse mesmo...tempinho. A falar, a existir, a partilhar. E não me vais pedir em casamento por isso, pois não?

- (risos).

- (risos). Só estava a querer dizer que considero a tua amizade muito importante mas isso não quer dizer que precise da tua atenção constante, não temos de estar juntas sempre, mas o mínimo, nós temos, e temos que ter.

- Sim, lá isso temos. Tu és das pessoas com quem mais falo.

- Pois! E esse parvo devia ter essa naturalidade de querer falar e estar contigo, também. Se não tem, minha linda, he's not that into you. É duro mas é a verdade. E até aparecer um homem daqueles que sabe o que quer e quer o que quer contigo, sem merdas, andas tu e todas nós a esforçarmo-nos e a dar passos por nós e por eles, que parecem mancos.

- (risos) "Quer o que quer o quer comigo"...isso é giro.

- Mas nem duvides. Esse vai querer mesmo estar contigo, não se vai pôr com meias tintas. E vai ser uma relação boa, normal, com dúvidas, vacilos, deslumbre, paixão. E logo se vê.

- Suspiro...


1 comentário:

Etelvina disse...

Isso é tão verdade, é tão frequente. Sinto-me tão tocada por esta estória (e a frase do sexo e a cidade tb é uma das da minha vida)... E o mais triste, é que os casos desse silêncio são cada vez mais numerosos e mais frequentes.
Não percebo. Parece que gostam de fazer das pessoas objectos.
Irritam-me tanto!
Até q enfim alguem escreve sobre este fenómeno do silêncio repentino e prolongado